Tinhamos outra vez andado, subimos ao terraço, e olhámos para o mar.
— Vejo que o senhor não quer senão o meu beneficio, disse eu depois de alguns instantes.
— Pois que outra cousa, Bentinho?
— Neste caso, peço-lhe um favor.
— Um favor? Mande, ordene, que é?
— Mamãe...
Durante algum tempo não pude dizer o resto, que era pouco, e vinha de cór. José Dias tornou a perguntar o que era, sacudia-me com brandura, levantava-me o queixo e espetava os olhos em mim, ancioso tambem, como a prima Justina na vespera.
— Mamãe qué? Que é que tem mamãe?
— Mamãe quer que eu seja padre, mas eu não posso ser padre, disse finalmente.
José Dias endireitou-se pasmado.
— Não posso, continuei eu, não menos pasmado que elle, não tenho geito, não gósto da vida de padre. Eslou por tudo o que ella quizer; mamãe sabe que eu faço tudo o que ella manda; eslou promjtlo a ser o que fôr do seu agrado, até cocheiro de omnibus. Padre, não; não posso ser padre. A carreira é bonita, mas não é para mim.
Todo esse discurso não me saiu assim, de vez, enfiado naturalmente, peremptorio, como póde parecer do texto, mas aos pedaços, mastigado, em voz um pouco surda e tímida. Não obstante, José Dias ouvira-o espantado. Não contava certamente com a resistencia, por mais acanhada que fosse;