Página:Eneida Brazileira.djvu/120

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Aqui e alli, por tudo a mente versa;
Muda, varía, alterna, emfim resolve.
Cloantho convocou, Mnesteu, Sergesto;
Que, á surda apparelhando e a marinhagem
315A’ frota recolhendo, apromptem armas,
Da novidade a causa dissimulem:
Que elle, como romper-se amor tamanho
A bonissima Dido não recêe,
De conversal-a o ensejo tentaria,
320A senda mais suave e o melhor geito.
Todos com alvorôço as ordens cumprem.
Mas a raínha os dolos (quem a amante
Pode enganar!) pressente, e o que se urdia
Primeiro aventa, e o mais seguro teme.
325Impia a Fama a exaspera, e lhe delata
Que a vogar se arma a frota. Urra, chammeja,
Debaccha pelas praças, pelas ruas:
Qual Thyas quando, ao sacudir dos vultos
E thyrsos incitada, evoé bramindo,
330Trietericas orgias a estimulam,
E o Cytheron nocturno a invoca a brados.
Topa a Enéas por fim: «Perfido, exclama,
Poder inda encobrir tam feio embuste
E te escoar do meu paiz contavas?
335Nosso amor, a fé dada não te embarga,
Nem de Elisa a funesta morte crua?
E até na hyberna quadra as naus fabrícas,
E na fôrça dos áquilos te apressas
A emmarar-te, cruel? Que! se não fôsses
340A estranho solo e clima, Troia antiga
Se em pé tivesses, pelas crespas vagas
Navegaras a Troia?... A mim me foges?
Por este pranto meu, por essa dextra
(Pois nada já me reservei mesquinha),
345Por nosso matrimonio, pelas nupcias