Página:Eneida Brazileira.djvu/263

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Fornalhas carcomida, e em safras malhos
Se ouvem gemer, dos Cálybes as chispas
Rugir e as fragoas resfolgar em ala:
De Vulcano appellida-se Vulcania.
420Dos céos o alto forgeiro aqui descende.
No antro espaçoso o ferro trabalhavam
Nus Pyracmon e Estéropes e Brontes.
Nas mãos polido em parte, inda imperfeito,
Corisco tinham, dos que do ether Jove
425Crebros joga: tres raios de saraiva
Torta ajuntaram, tres de aquosa nuvem,
Tres de rútilo fogo e de austro alado;
Fulgor terrífico e estampido e medo
Mesclavam-lhe e iras de sequazes flammas.
430Rodas leves e o carro outros concertam
Com que homens e cidades Marte excita;
A egide horrivel da agastada Pallas
De aureas escamas á porfia brunem,
Onde ao seio da deusa enrosca as serpes
435E inda olhos vira a Gorgóna estroncada.
«Fóra tudo, lhes clama, etneus Cyclopes,
Deponde esses trabalhos e attendei-me.
Vam-se armas fabricar a heroe famoso:
Fôrça agora e primor, destreza e pressa.»
440Nem acaba, e o serviço elles sortêam:
Flue ouro e cobre a jorros, e em fornalha
Ampla o aço vulnífico liquesce.
Broquel tremendo formam, só bastante
Contra todos os tiros dos Latinos;
445Laminas sete em orbes o roboram:
Ventosos folles o ar sorvido expellem;
No tanque ao temperar-se o metal chia;
O antro a bramir, os golpes nas bigornas
Braços nervudos em cadencia alternam,
450Com tenaz pegam, rubra a massa volvem.