Página:Eneida Brazileira.djvu/320

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Fraca de vácua nuvem sombra tenue
Arma á troiana; o escudo, as cristas finge
Da cabeça divina; oucas palavras,
Som lhe empresta sem mente, o andar e o gesto:
630Como, he voz, do finado erra a figura;
Ou qual sonham sopitos os sentidos.
Ante as fileiras jubilando a imagem,
Dardos em punho, desafia a Turno.
Este, irritando-se, a estridente lança
635Arremessa: o phantasma as costas vólta.
Creu Turno em fuga a Enéas, e se rega
Alvoroçado em frivola esperança:
«Onde vais, Teucro? os thalamos desprezas?
Toma a terra, eu t’a dou, por mar buscada.»
640E, após clamando, o gladio nu brandia,
Sem vêr que he seu prazer seguir o vento.
Á saxea ribanceira, expostas inda
Pranchas e escadas, o navio estava
Que a Osinio rei de Clusio transportara.
645Alli pavido o esquivo simulacro
Deita a esconder-se; vence estorvos Turno,
Salta as pontes. A proa mal que attinge,
Rebenta os cabos Juno, arranca o lenho,
Pelas vagas revôltas o arrebata.
650Por seu rival bramando, o vero Enéas
Na homecida carreira proseguia;
Já não se occulta, voa o aereo vulto,
E em negrume cerrado se confunde;
Pelas ondas a Turno um tufão leva.
655Inscio, ingrato á mercê, contempla em roda,
Ao céo levanta as mãos: «Jupiter summo,
Digno me julgas de desar tamanho?
Que punição? Para onde me conduzem?
Donde vim? Quem sou eu com tal fugida?
660Como a Laurento e aos muros tornar posso?