Página:Eneida Brazileira.djvu/53

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No ádito em postas aos primeiros talham,
E tudo enchem de tropas e de estragos.
Bem menos, quando inchado o espumeo rio
Marachões quebra e vallos sobrepuja,
525Agros furioso inunda, e na torrente
Roja armento e curraes de campo em campo.
Eu vi Pyrrho na brecha encarniçado
E os dous Atridas; Hecuba e as cem noras,
E o rei no altar vi mesmo com seu sangue
530Maculando os que alli sagrara fogos.
Os thalamos cincoenta, em que esperava
Tantos netos, magnificas portadas
De ouro e espólio barbarico, arruínam:
Possue o Danao quanto poupa a chamma.

535Talvez de Priamo o destino inquiras.
Troia em destroço, o paço contemplando
Derruído e hostilmente profanado,
De ociosa armadura o velho os hombros
Tremulos veste, inutil ferro á cinta,
540Entre basto inimigo a morrer parte.
N’um pateo, exposto ao eixo nu celeste,
Louro antigo os penates obumbrava,
Sôbre ara ingente os ramos espalmando.
Qual da borrasca fugitivas pombas,
545N’um grupo alli pousando, Hecuba e as filhas
Comsigo em vão seus divos apertavam.
Sob armas juvenis ao rei que assoma:
«Que dira insania! diz; misero espôso!
Onde em bellico apresto assim caminhas?
550Tal defensa não basta e humano auxílio;
Nem que o meu proprio Heitor surgisse agora.
Vem nesta ara abrigar-te, ou vem comnosco
Morrer.» Nisto, ao longevo a mão pegando,
Em sagrada cadeira a par o assenta.
555Fugindo á morte um filho seu, Polites,