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ESPUMAS FLUCTUANTES


Ainda se agitar um lenço branco...
Era o lencinho tremulo de Lúcia!

Muitos annos correram depois disto.
Um dia, nos sertões eu caminhava
Pui- uma estrada agreste e solitária.
Deante de mim uma mulher seguia,
Como cântaro á cabeça, os pés descalços,
Com os hombros mis, mas pallidos e magros.

EUa cantava, com uma voz extincta,

Uma cantiga triste e compassada.

E eu, que a escutava, procurava embalde

Uma lembrança juvenil e alegre

Do tempo em que aprendera aquelles versos.

De repente lembrei-me... — Lúcia! Lúcia!
A mulher se voltou... fitou-mc, pasma,
Soltou um grito... e, rindo e soluçando,
Quiz para mim lançar-se, abrindo os braços..
Mas sjbito estacou... nuvem de sangue
Córou-lhe o rosto pallido e sombrio...
Cobriu com a mão crispada a face rubra,
Como escondendo uma vergonha eterna.

Depois, soltando um grito, ella sumiu-se
Entre as sombras da matta, a pobre Lúcia!