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Quanto à senhora, é recente na família, mas não tem menor direito que ela. Via-a tão pequena!

— A mim? perguntou Helena.

Camargo fez um gesto afirmativo, enquanto a moça olhava em volta da sala, receosa de que alguém tivesse entrado e ouvido. Uma vez segura de que ninguém havia, recebeu impressão contrária à primeira; envergonhou-se daquele receio. A vergonha aumentou quando o médico acrescentou em voz baixinha:

— Não falemos nisso...

— Pelo contrário! exclamou ela. Pode falar com franqueza; diga tudo. Era minha mãe. Não sei o que foi para o mundo; mas, se me perdoaram a irregularidade do nascimento, não creio que me pedissem em troca a renúncia do meu amor de filha; a lei que o pôs em meu coração é anterior à lei dos homens. Não repudio uma só das minhas recordações de outro tempo. Sei e sinto que a sociedade tem leis e regras dignas de respeito; aceito-as tais quais; mas deixem-me ao menos o direito de amar o que morreu. Minha pobre mãe! Vi-a expirar em meus braços, recolhi o seu último suspiro. Tinha apenas doze anos; contudo, não consenti que outra pessoa velasse à cabeceira a última noite que passou sobre a terra... Oh! não a esquecerei nunca! nunca! nunca!