Página:Helena.djvu/194

Wikisource, a biblioteca livre

ao coração que não ousa falar. O senhor ama esta menina; leio-lhe nos olhos o sentimento que o arrasta para ela; são dignos um do outro. Se é a timidez que lhe fecha os lábios, eu sou a voz da verdade e do amor infinito; se outro motivo, serei juiz complacente para escutá-lo.

Ouvindo estas palavras, Mendonça ficou aturdido e mudo. Não só a fortuna lhe chegava às mãos, quando ele menos esperava, mas até escolhera um caminho desusado e estranho. A realidade confundia-se ali com o sonho. A presença de um terceiro era suficiente motivo para acanhar os mais resolutos; acrescia a veste sacra do sacerdote, que dava àquilo um ar de solenidade e consagração. Mendonça recobrou, enfim o uso dos sentidos; a resposta única e eloqüente foi estender a mão a Helena, gesto a que a moça correspondeu com simpleza e naturalidade.

— Não se enganaram meus olhos, disse o padre. Ama-a, e pode dar-lhe a felicidade que lhe desejo a ela. Também Helena o fará venturoso, não? perguntou ele, voltando-se para a moça.

— Mas é isto um sonho? perguntou enfim Mendonça.

— A vida não é outra coisa, retorquiu o capelão; velho pensamento e velha verdade. Façamos