Página:Helena.djvu/278

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se para a moça e pegando-lhe nos pulsos, disse imperiosamente:

— Então quem é? Seu silêncio é uma delação; não tem já direito de hesitar.

— Não hesito, replicou Helena; em tais situações, uma criatura, como eu, caminha direito a um rochedo ou a um abismo; despedaça-se ou some-se. Não há escolha. Este papel, — continuou, tirando da algibeira uma carta, — este papel lhe dirá tudo; leia e refira tudo a Estácio e a D. Úrsula. Não tenho ânimo de os encarar nesta ocasião.

Melchior, atordoado, fez um leve sinal de cabeça.

— Lido esse papel, estão rotos os vínculos que me prendem a esta casa. A culpa do que me acontece, não é minha, é de outros; aceitarei contudo as conseqüências. Poderei contar ao menos com a sua bênção?

A resposta do padre foi pousar-lhe um beijo na fronte, beijo de absolvição ou de clemência, que ela lhe pagou com muitos na destra enrugada e trêmula de comoção. Helena precipitou-se depois para o corredor, deixando o padre só, com a carta nas mãos, sem ousar abri-la, receoso dos males que iam dali sair, sem certeza ao menos de que ficaria no fundo a esperança. Ia abri-la, e hesitou