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MONTEIRO LOBATO

— Sim. Casou-se com o Marquês de Rabicó e logo se separaram, mas pela lei ainda continua marquesa. [1]

Muita gente jura que o Pequeno Polegar tinha paixão pela Emília. Pode ser. Não tenho elementos para dar opinião sobre o assunto.

Fomos ao Picapau Amarelo, onde Emília recebeu Polegar como quem recebe o namorado, e beijou-o como quem come um bombom. Depois perguntou o que queríamos.

— Consertar a botinha dele. Emília. O pé esquerdo está atrasando seis léguas a cada passo — e contei a nossa impossibilidade de encontrar sapateiro ou relojoeiro que corrigisse o atraso.

— E que tem que atrase?

— Tem que com botas assim ele perde a velocidade, que é a sua única arma neste mundo tão cheio de gatos e outros antropófagos. Não podendo escapar dos inimigos, dum momento para outro ele desaparece da cena — e vai ser um desastre. Como poderá o mundo das crianças viver sem o Pequeno Polegar?

Emília achou que era isso mesmo. Pegou da botinha e espiou dentro, cheirou-a, franziu o nariz como se houvesse sentido um cheirinho de chulé, e disse:

— Só há um jeito, que é aplicar o faz-de-conta. Bota que atrasa é desses casos que nenhum mecânico do mundo conserta, porque não é desarranjo físico e sim da mágica que há dentro. Que idéia boba a sua, de andar procurando sapateiros e relojoeiros? Se procurasse um pai-de-santo ainda vá...

Depois sorriu, e olhando para a bota fez uma carinha de dó e disse:

— Com o faz-de-conta eu arrumo isto num momento. Querem ver? "FAZ DE CONTA QUE ESTA BOTA NÃO ATRASA NEM UM CENTIMETRO." Pronto! — e entregou a bota ao Pequeno Polegar. — Calce e veja.

Polegar calçou a botinha e experimentou. Deu um passo com o pé direito e sumiu da nossa presença. Minutos depois reapareceu muito alegrinho dizendo:

  1. Reinações de Narizinho.