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O MUSEU DA EMÍLIA
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grãos de milho que ele ainda conserva no peito. Chegou...
Está berrando no ouvido de Quindim... Mas Quindim
não dá pela coisa. O Visconde berra inutilmente. Mudou
de lugar. Foi berrar no outro ouvido. Nada! Agora está
sapateando em cima de Quindim, mas não há meio. Quin-
dim não acorda.

NARIZINHO(Torcendo as mãos.) — Nossa Senhora! Que será
de nós!

PEDRINHO(Sempre a espiar.) — A vaca aparece lá, longe e
o Visconde disparou. Vem vindo na volada. Tropeçou
numa casca. Vem chegando. (O menino recolhe-o.) E
então, senhor mensageiro?

VISCONDE(Enxugando o rosto suado com as palhas do pescoço.)
— Impossível acordar aquele dorminhoco. Parece que mor-
reu. Fiz tudo. Berrei-lhe no ouvido. Sapateei em cima.
Nada. Não acorda.

EMÍLIA — É um estafermo este Senhor Visconde! Não presta
nem para acordar rinoceronte.

O lobo solta novo uivo de cólera e arranca mais uma tábua da porta. Enfia pelo buraco o seu horrível focinho.

TIA NASTÁCIA — Nossa Senhora! É lobo mesmo, do "legite"!

DONA BENTA(Prestes a desmaiar também, pendendo a cabeça
para o encosto da cadeira.) — Legítimo, Nastácia...

PEDRINHO e NARIZINHO(Pulando da mesa para o chão.) — E
agora?

Emilia corre à cozinha e volta com o vidro de pimenta em pó. Trepa à mesa e salta para fora, dizendo antes de pular:

EMÍLIA — Esperem que eu arranjo tudo. Quero ver se o sono
do Quindim resiste a esta pimenta. Vou mostrar ao sarambé
do Visconde como é que se acorda rinoceronte.

Pedrinho volta ao seu posto de observação em cima da mesa. Tia Nastácia faz cruzes no peito e reza em voz baixa. Narizinho vai para junto de Dona Benta, que ainda tem ao colo a menina da Capinha Vermelha.