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AS FADAS
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— Sei, uma gata...

— Não!... Viu um rato.

— Rato? Pois então havia ratos numa festa de tal luxo?

— Sim, havia um, mas não desses ratos vagabundos que caem em ratoeiras e são envenenados pelas donas de casa. Era um rato célebre. Um rato personagem, como todos ali eram personagens.

— Qual a diferença entre gente e personagem?

— Gente é gente, você sabe, não preciso explicar. E p e r s o n a g e m é uma coisa muito mais que gente, porque gente morre e os personagens não morrem, são imortais, eternos. Dom Quixote, por exemplo. Existe desde o tempo de Cervantes, e existirá enquanto houver humanidade. Se fosse gente, já teria morrido há muito tempo e ninguém mais se lembrava dele. Quem se lembra dos fidalgos-gente do tempo de Cervantes? Todos morreram, desapareceram da memória dos homens. Mas Dom Quixote e Sancho, que são dessa mesma era, continuam perfeitamente vivos, são citados a toda hora, não morreram nem morrerão nunca. Por quê? Porque são "personagens". Pois bem: o rato que o Gato de Botas viu era também personagem — era o rato Mickey.

— Mickey Mouse?

— Sim. "Mouse" em inglês quer dizer rato, de modo que tanto faz dizer o "rato Mickey" como "Mickey Mouse".

— Muito bem. Com que então, na curvatura que o de Botas fez ao entrar na festa viu ali um rato — o rato Mickey...

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