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A REINAÇÃO ATÔMICA
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— E a que atribui isso?

— Não sei. Talvez eu comesse alguma coisa que faz mal aos cabelos...

Conversaram longamente, essa e outras vezes, mas sem resultado para o detetive. Dias depois, entretanto, o Visconde ficou de pulga atrás da orelha em virtude do interesse da ex-boneca pela física atômica. Isso foi depois do lançamento da bomba atômica sobre a ilha de Biquíni, feito pelos americanos. Emília não largava do assunto, mas o seu interesse não era pela força destruidora das bombas, sim pelos efeitos das emanações sobre os seres vivos. A experiência havia mostrado que depois da explosão ficava a terra carregadíssima de radiatividade, e essa radiatividade exercia misteriosos efeitos nos seres vivos. Os sábios andavam a estudar esses efeitos. A preocupação de Emília era saber que efeitos as radiações produziam, ou podiam produzir.

Essa preocupação da ex-boneca forçou o Visconde a estudar muito e a pedir a Dona Benta que lhe comprasse revistas científicas americanas; chegou mesmo a escrever a vários sábios, entre eles Alberto Einstein e o Professor Milikan.

Um dia um raio de luz lhe entrou na cabecinha. Quem sabe se as emanações da ilha de Biquíni, revolvida pela bomba atômica, tinham efeito sobre os cabelos humanos, a ponto de os fazer cair? E o Visconde se pôs em correspondência com o Doutor Galipoli, que andava lá pelos cafundós estudando o mesmo assunto. Esse cientista tinha em observação cinco casos de pessoas imprudentes que haviam penetrado nas ruínas de Biquíni e estavam perdendo os cabelos.

O Visconde esfregou as mãos ao ler a carta do Doutor Galipoli que dizia isso, e tratou de saber quanto tempo depois de terem estado nas ruínas aquelas pessoas começaram a perder os cabelos. A resposta foi: "Três meses.

O "sabinho" pensou, pensou — deduziu, deduziu... Depois foi ter com a ex-boneca.

— Emília, há quanto tempo seu cabelo começou a cair?

— Três meses.