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AS NINFAS DE EMÍLIA
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— Porque descobriu que seus verdadeiros antepassados são os Condes de Fac-Simile e não os Marqueses de Sabugosa, como ele pensava — inventou Emíilia com o maior desplante, esperando que a pobre deusa não desconfiasse.

Mas dessa vez a esperteza de Emília não deu muito certo. Depois que ela se retirou, a deusa, desconfiada de qualquer maroteira, tratou de informar-se — além de que aquele Visconde não falava, não dava nenhum sinal de vida. E convencendo-se de que fora lograda, ficou furiosissima. Tão furiosa que chamou o vento Éolo e disse:

— Vá lá no tal Picapau Amarelo e varra-me para cá as seis ninfas que aquela diabinha me surrupiou.

E Éolo foi e varreu o pomar como um tufão. Caiu manga verde como nunca, e todos os galhos que tinham broca vieram ao chão, e folhas só ficaram as novas e perfeitas. Mas Éolo não conseguiu arrancar de lá nem uma das seis ninfas.

— Por quê?

— Ah, porque Emília já estava lá e soube acudir a tempo. Com medo de que Flora descobrisse a sua maroteira e procurasse vingar-se, ela havia dito às ninfas:

— Olhem aqui: vocês são novas neste reino do Picapau e correm muitos perigos. O melhor é ficarem uns tempos como hamadríades, dentro do tronco das árvores. Quando já não houver perigo de coisa nenhuma, eu as solto.

As seis ninfas, que estavam com frio (porque era mês de junho), aceitaram a idéia e permitiram que Emilia, depois de com o machado faz-de-conta abrir as seis maiores árvores do pomar, as encerrasse lá dentro, promovidas a hamadríades. De modo que quando Éolo chegou e sacudiu o pomar com a força do tufão, varreu quanta coisa frágil havia — mas não tocou nas ninfas... não pôde levar para a deusa Flora ninfa nenhuma, porque já não havia ninfa nenhuma no pomar do Picapau Amarelo. Só havia hamadríades, muito bem escondidas dentro do tronco das maiores árvores e à prova de quanto vento há no mundo...

Este caso das ninfas foi uma das mais belas vitórias de Emília.