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MONTEIRO LOBATO

porque vim com as botas ao ombro, andando pela beira dos caminhos, com muito cuidado para não ser comido pelos bichos."

— Que bichos?

— Sapos, gatos, cachorros, galinhas ... Quando estou no uso das botas, não tenho medo nem de gigantes. Mas sem elas sou a maior fraqueza do mundo — e nem sei como pude chegar até aqui...

O banho de Polegar foi muito interessante. Havia no quarto um pires, que enchi d'água e serviu de piscina. Do sabonete da pia cortei um pedacinho do tamanho dum grão de arroz — e com esse sabonetinho ensaboou-se todo. Não creio que haja no mundo cena mais galante do que Polegar a ensaboar-se! Depois enxugou-se e foi para a cama. Estava cansadíssimo. Levantei a colcha e no meio daquela imensidade branca, que era o lençol, coloquei-o deitadinho, coberto com o meu lenço de seda.

— Durma bem. Amanhã voltarei para sairmos juntos em procura de sapateiro que conserte atraso de bota.

No dia seguinte voltei cedo e ajudei-o a tomar o café da manhã: meia colherzinha de café com leite, da qual só ingeriu três gotas, com uma isca de pão. Quis experimentar a geléia que veio num cálice e besuntou-se todo...

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