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havemos de mostrar v. g. uma pelotilha, e que á sua vista d'esta lhe havemos fazer um pomo. O que vos responderá? Responde logo com velocidade, sem primeiro discursar se pode ser ou não ser, ou por que arte se poderá fazer a dicta farça: que tal coisa se não pode fazer. Fazeis-lhe a ligeireza, fica attonito o nosso leigo, e responde-vos que aquillo não póde ser senão por arte diabolica. Ensinaes-lhe a peça, entende o segredo, e põe-se a sorrir; e vendo tão facil o que tinha por impossivel rompe do seu assombro dizendo : quem tal dissera? Assim pois esperamos que se hade dizer, vendo-se surcar os ares o nosso invento, para confusão dos ignorantes, que o negam, e desempenho dos sabios, que o affirmam.[1]

  1. Este doccumento foi publicado pela primeira vez em 1849 nas Actas das Sessões da Academia Real das Sciencias por Francisco Freire de Carvalho no Additamento á sua Memoria. D'elle lhe deu conhecimento o sr. Rivara que na Bibliotheca publica de Evora encontrou uma copia de lettra do seculo XVIII. Por mais completa preferimos a copia que se conserva na Bibliotheca da Universidade no citado codice n.° 342, Veja-se a nota a pag. 31 d'este opusculo.
    O exemplar da Bibliotheca de Evora tem o seguinte titulo : «Manifesto summario para os que ignoram poder-se navegar pelo elemento do ar, feito na occasião em que o doutor Bartholomeu Lourenço de Gusmão pretendia sahir á luz com similhante invento.» No fim lê-se a seguinte nota: «Este invento o chegou a aperfeiçoar o dicto doutor Bartholomeu Lourenço de Gusmão, e dizem que chegára a fazer seu voo na casa da India, ainda que pequeno, pelo que se desenganaram de não ser possivel fazer o curso, que promettia o seu auctor, como consta do seu manifesto ; eu vi o risco d'elle, que era do feitio de uma grande passarola, e m'o mostrou D. Jorge Henriques, Senhor das Alcaçovas, etc.