Queria ir eu mesmo comunicar-te isto; mas não ouso contemplar a tua dor, nem te quero dar o espetáculo da minha.
Adeus, Oliveira. Se a fatalidade ainda consentir que nos vejamos (impossível!), até um dia; se não... Adeus!
Adivinha o leitor o golpe que esta carta descarregou no coração de Oliveira. Mas é nas grandes crises que o espírito do homem se mostra grande. A dor do apaixonado superada pela dor do amigo. O final da carta de Magalhães aludia vagamente a um suicídio; Oliveira deu-se pressa em ir impedir esse ato de nobre abnegação. Demais, que coração tinha ele, a quem confiasse todos os seus desesperos?
Vestiu-se apressadamente e correu à casa de Magalhães.
Disseram-lhe que não estava em casa.
Oliveira ia subindo:
— Perdão, disse o criado; eu tenho ordem de não deixar subir ninguém.
— Razão demais para eu subir, respondeu Oliveira, afastando o criado.
— Mas...
— Trata-se de uma grande desgraça!
E subiu apressadamente a escada.
Na sala, não havia ninguém. Oliveira entrou afoitamente no gabinete. Achou Magalhães sentado à secretária inutilizando alguns papéis.
Perto dele, havia um copo com um líquido vermelho.
— Oliveira! exclamou ele, quando o viu entrar.
— Sim, Oliveira, que vem salvar a tua vida, e dizer-te quanto és grande!
— Salvar-me a vida? murmurou Magalhães; quem te disse que eu?...
— Tu, na tua carta, respondeu Oliveira. Veneno! continuou ele, vendo o copo. Oh! nunca!
E despejou o copo na escarradeira.
Magalhães parecia atônito.
— Eia! disse Oliveira; dá cá um abraço! Este amor infeliz foi ainda um lance de felicidade, porque conheci bem que coração de ouro é esse que te bate no peito.
Magalhães estava de pé; caíram nos braços um do outro. O abraço comoveu Oliveira, que só então deu largas à sua dor. O amigo consolou-o como pôde.
— Bem, disse Oliveira, tu que foste causa indireta da minha desgraça,