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— Empate! Empate! gritavam os aficionados ao longo da cancha por onde passava a parelha veloz, compassada como n’uma colhéra.

— Valha-me a Virgem madrinha, Nossa Senhora! gemia o Negrinho. Se o sete léguas perde meu senhor me mata! Hip! hip! hip!…

E baixava o rebenque, cobrindo a marca do baio.

—Se o corta-vento ganhar é só para os pobres! retrucava o outro corredor. Hip! hip!

E cerrava as esporas no mouro.

Mas os fletes corriam compassados como numa colhéra. Quando foi na última quadra, o mouro vinha arrematado e baio vinha aos tirões… mas sempre juntos, sempre emparelhados.

E a duas braças da raia, quase em cima do laço, o baio assentou de sopetão, pôs-se em pé e fez uma cara-volta,, de modo que deu ao mouro tempo mais que preciso para passar, ganhando de luz aberta! E o Negrinho, de em pelo, agarrou-se como um ginataço.

—Foi mal jogo! gritava o estancieiro

—Mau jogo! secundavam os outros da sua parceria.

A gauchada estava dividida: mais de um toreana coçou o punho da adaga, mais de desapresilhou a pistola, mais de um virou as esporas para o peito do pé… Mas o juiz, que era um velho do tempo da guerra de Sapé-Tiaraiú, era um juiz macanudo, que já tinha visto muito mundo. Abanado a cabeça branca sentenciou, para todos ouvirem.

—Foi na lei! A carreira é de parada morta; perdeu o cavalo baio, ganhou o cavalo mouro. Quem perdeu, que pague. Eu perdi cem gateadas; quem as ganhou venha buscá-las. Foi na lei!

Não havia o que alegar. Despeitado e furioso o estancieiro pagou a parada, à vista de todos