Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/110

Wikisource, a biblioteca livre

porque eras humilde e virtuoso; porque filho da raça soffredora e austera chamada o povo, eras meu irmão, e não podias, tão bom, tão singelo, tão puro enganar teu pobre irmão. Creio, creio, oh Nazareno! porque até a hora do expirar na ignominia, até a hora da grande prova, nunca desmentiste a tua doutrina. Creio, creio, oh Nazareno! porque tu só nos explicaste o mysterio desta associação monstruosa da saude e do ouro, do poderio e dos crimes a um lado; a da enfermidade e da pobreza, da servidão e da innocencia a outro; porque nos explicaste como os destinos humanos se compensavam além do sepulchro. Creio, creio, oh Nazareno! porque só tu soubeste revelar a consolação á extrema miseria sem horisonte, e os terrores á completa felicidade sem termo na vida, collocando no logar do destino a providencia, e do nada a immortalidade! Creio, creio, oh Nazareno! porque a intensidade do teu viver é um impossivel humano; a victoria da tua doutrina severa contra a philosophia e o paganismo um milagre; a gloria do teu nome de suppliciado maior que todas as glorias das mais altas e virtuosas intelligencias do mundo. Mas foste, na verdade, um Deus?”

Não, o animo vulgar que nunca vacillou na fé, que nunca discutiu o Verbo, nunca julgou