Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/126

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com as lindezas e alegrias canonico-municipaes?

Bellos e veneraveis eram os dous platanos. O adro, cubriam-no todo com as suas sombras fechadas, e só pela volta da tarde, principalmente no outono, é que algumas resteas açafroadas do sol no poente se estiravam por debaixo delles, e lá íam bater frouxas no limiar da igreja pulído do contínuo perpassar, e na porta de um vermelho desbotado, onde nesse tempo começavam a alvejar os remendos brancos com que as revoluções converteram os áditos dos templos em pelourinhos eleitoraes.

Á entrada do adro alevantava-se uma grande cruz de madeira pintada de preto, em cuja haste mãos devotas tinham atado um ramo de flores, e este ramo, no meio do qual havia um pé de perpetuas, era a imagem das vaidades do mundo ao redor da religião do calvario, immutavel no meio dellas. As outras flores tinham-nas mirrado os ardores do estio: só restavam do morto ramilhete as immarcessiveis perpetuas.

Era n’um poial que servia de base á cruz, onde áquella hora do pôr do sol o padre prior vinha muitas vezes sentar-se; e alli estava tempo esquecido, ora alongando os olhos pelas solidões do mar, que lá em baixo no fundo do extenso valle quebrava nas rochas, ora traçando attentamente