Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/230

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saloio, que tornára, ao ouvir o nome do Chico, a enterrar o barrete na cabeça, mas desta vez á banda—­com a sua licença, ha-me de perdoar: não sei o que fez em chamar n’um dia destes aquelle jimento do Chico para tocar os sinos. Aquillo!? Ora, deixa-me rir. Ha-de-a fazer bonita; não tem duvida? Olhe, sempre lhe digo...”

“Não digas nada: bem sei. Mas que dianho querias tu com uma cravella de doze que dá a menza da irmandade, e nicles? Mesmo o Chicho, deu-me agua pela barba para o resolver. Se aquillo são uns dianhos d’uns fonas!”

“Pois se vocemecê quer—­interrompeu Gabriel, em cujos olhos se accendia o desejo, o deleite, e a esperança—­eu lá vou. Hoje o patrão deu-me licença até ás trindades. Salto na torre, e vae tudo raso. Toco até aquella cantiga de Lisboa, que dizem que canta um tal Catragena em S. Calros: ... totro, trão-balão, re-pim, piri-pim-pão.”

Enthusiasmado, o moço do moleiro cantarolava, imitando os sons de um sino, ou antes de um tacho, a musica horrendamente aleijada, esfarrapada, assassinada do dueto de Assur e Semiramis: La sorte piu fiera. Se Rossini alli chegasse de subito, ou não a conhecia, ou enganava-se. O sacristão estava enlevado.