Página:Lendas e Narrativas - Tomo II.djvu/255

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Perpetua Rosa continuava a resmonear, já com acompanhamento de—­“tem razão, tia Perpetua!” —­“olha o maluco!”—­“se queres vêr o villão mette-lhe a vara na mão!”—­“é agora o senhor assaluto!”—­Era uma tempestade eminente: era a revolta eterna do pobre contra o abastado, que resfolga pelo minimo respiradouro. E o sussurro crescia, e Bartholomeu, suffocado pela raiva, batia o pé, e debalde tentava cuspir por cima daquella quasi algazarra as pragas, as injurias, as ameaças, que lhe faziam maior entupimento na garganta do que pão de cevada faria em goellas de peralvilho dengoso. Vingava-se, é verdade, em servir de couces e cachações o misero Gabriel, que se lhe reboleava aos pés; mas isto não era mais que botar lenha ao forno, e augmentar cada vez mais o tumulto. A hirta mó de saloios ao pé do guardavento tornava-se mais flexivel, ondeava, alargava-se, dissolvia-se, e vinha agglomerar-se de novo em volta de Bartholomeu, curiosos de indagarem o motivo daquella assuada. Falavam todos a um tempo; já no meio do borborinho ninguem se entendia; e, apesar da colera e da sua habitual firmeza, o moleiro começava a titubear.

Na furia em que estava incendido contra Perpetua Rosa, contra a ama do prior, que