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luz de sua alma; o seu sorriso era sublime de candura.

— Aquele homem não tocou no meu corpo, porque até a mão que roçou na sua, estava calçada com esta luva, que eu já despedacei, disse estendendo a ponta do pé. Mas tem razão, bastava o seu hálito para manchar. Olhe para mim. Quando eu despir esta roupa, despirei trapos que para nada servem!

Foi então que reparei na desordem de seu traje.

— Não me enganas, Lúcia?

— Que juramento quer que lhe dê? O mais sagrado!...

Se não fosse assim, teria animo de falar-lhe, de vê-lo ainda! Também eu, não sabe? Estive na rua até quase ao amanhecer, olhando a casa onde supunha que o senhor apertava nos braços outra mulher! Não se morre de dor, porque eu não morri esta noite!

— Não me devias dizer semelhante coisa para me punir!

Fui eu que procurei então o lábio que ela há pouco me oferecera.

— Espere!...

Lúcia demorou-se algum tempo. Quando apareceu, saia do banho fresca e viçosa. Trazia os cabelos ainda úmidos; e a pele rorejada de gotas d'água. Rica e inexaurível era a organização dessa moça, que depois de tão violento abalo parecia criar nova seiva e florescer com o primeiro raio de felicidade!

Fora o acaso ou uma doce inspiração, que arranjara o traje puro e simples que ela trazia? Tudo era branco e resplandecente como a sua fronte serena: por vestes cassas e rendas; por jóias somente pérolas. Nem uma fita, nem um aro dourado, manchava essa nítida e cândida imagem. Creio antes na inspiração. Lúcia tinha