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— Certamente me farás arrepender Sabes que eu não gosto que me contrariem. Adeus.

Laura fitou nela um olhar surpreso, no qual passou rapidamente a sombra de um ressentimento; mas acabou rindo-se, e saiu depois de dizer estas palavras:

— Tu me expulsas de tua casa? Não tenho o direito de me ofender; acabas de pagar o aluguel da minha.

A porta fechada por Lúcia bateu com tanta força que as vidraças das janelas estremeceram.

Tinha assistido de parte a esse pequeno e vivo diálogo, e compreendera tudo. A alusão que Lúcia fizera na noite da ceia realizava-se; Laura recorrera a ela numa dificuldade, e acabava de receber o benefício da mão que insultara. Inda mais, sem delicadeza para compreender o motivo da contrariedade de Lúcia que desejava ocultar de mim a sua generosidade, saía maculando com uma ironia grosseira a gratidão que exprimia.

O coração de uma me apareceu vil e torpe, quanto a alma da outra se mostrava nobre, elevada e rica de sensibilidade.

Lúcia deu algumas voltas pela sala, enquanto dominava a sua agitação, e caminhou para mim risonha, meiga, e ainda resplandecente das cores vivas que uma cólera passageira abrira em suas faces, como as tempestades rápidas, que atravessam a atmosfera, deixando a natureza mais brilhante e viçosa.

— Agora é meu até?. . . e a última palavra desfez-se num sorriso celeste. Até amanhã! E meu só.

Inclinou a fronte, que eu beijei.

Por que estavas há pouco tão zangada?

— Já não me lembro! respondeu com faceirice,