Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/223

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PROTEU

Quem? Eu? Farei o que puder; e creio que me é dado Fazer muito: o caso é que eu seja utilizado. O dom de transformar-me, à vontade, a meu gosto Torna-me neste mundo um singular composto. Vou ter segura a vida e o futuro. O talento Está em não mostrar a mesma cara ao vento. Vermelho de manhã, sou de tarde amarelo; Se convier, sou bigorna, e se não, sou martelo. Já se vê, sem mudar de nome. Neste mundo A forma é essencial, vale de pouco o fundo. Vai o tempo chuvoso? Envergo um casacão. Volta o sol? Tomo logo a roupa de verão. Quem subiu? Pedro e Paulo. Ah! que grandes talentos! Que glórias nacionais! que famosos portentos! O país ia à garra e por triste caminho, Se inda fosse o poder de Sancho ou de Martinho. Mas se a cena mudar, tão contente e tão ancho, Dou vivas a Martinho, e dou vivas a Sancho! Aprendi ó meu pai, estas coisas, e juro Que vou ter grande e belo um nome no futuro. Não há revoluções, não há poder humano Que me façam cair...

(com ênfase)

O povo é soberano. A pátria tem direito ao nosso sacrifício. Vê-la sem este jus... mil vezes o suplício!

(voltando ao natural)

Deste modo, meu pai, mudando a fala e