Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/241

Wikisource, a biblioteca livre

melhores. Ora, fazei o favor de repetir comigo:

Eu já vi a taverneiro

Vender vaca por carneiro...

- E depois vá, dizei-me o resto, que não quero perder iguaria de tão fino sabor.

D. MANUEL - O duque de Aveiro e o poeta encontraram-se ontem na igreja do Amparo. O duque prometeu ao poeta mandar-lhe uma galinha de sua mesa, mas só lhe mandou um assado. Camões retorquiu-lhe com estes versos, que o próprio duque me mostrou agora, a rir:

Eu já vi a taverneiro,
Vender vaca por carneiro.
Mas não vi, por vida minha,
vender vaca por galinha,
senão ao duque de Aveiro.

- Confessai, confessai senhor CAMINHA, vós que sois poeta, confessai que há aí certo pico, e uma simpleza de dizer... Não vale tanto de certo como os sonetos dele, alguns dos quais são sublimes, aquele por exemplo:

ou este

- Sabeis a continuação?

CAMINHA - Até lhe sei o fim:

Se me pergunta alguém porque assim ando
respondo que não sei, porém suspeito
que só porque vos vi, minha senhora.