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teu o delito de se refugiar no culto do Bem.

Transforma-se a vitima em culpado e o culpado em vitima. ¿O homem tiranizou? ¿A mulher tentou libertar-se? Pois bem, é ele o vencedor, e ela a veneida. O divorcio, é um delicto n'essa sociedade estreita. O direito de amar, reclamado pelas naturezas afectivas, um crime. A honestidade uma duvida, ou a hipotese de uma aberração.

Eis um calvario de mulher, e de muitas mulheres que sucumbem, que morrem e enlouquecem por não saberem salvar-se. E é sempre o homem que tem razão. Os costumes, n'uma afirmação do mais inconsciente egoismo, concedem sempre o beneplacito á causa do homem. Pela sua boca a sociedade fica considerando a revoltada uma louca, uma histerica, uma desequilibrada.

E acredita-se, e repete-se o argumento, e serve para desacreditar, embaraçar, repudiar um esforço nobre, tolhendo um efeito de redenção.

Ninguem vê n'esse facto um crime social. Porque já não é só o interesse individual em jogo. E' a causa comum, é a causa da humanidade.