Página:Memória sobre a Ilha Terceira.pdf/730

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desertores, cujo número já era crescido. Para obviar a tantos males, determinou a Regência, a 13 de setembro, que marchassem alguns destacamentos para diversos lugares do campo, com ordens severas para capturarem os desertores e malfeitores que andavam praticando roubos e barbaridades. Ia-se agravando progressivamente o desassossego público. A 28 de setembro, na freguesia de Santa Bárbara, vários guerrilhas mataram um soldado e açoitaram um padre com cordas dobradas; e semelhantes atos violentos se praticaram em diferentes pontos da ilha Terceira, sem que o governo os pudesse evitar. No dia 17 de outubro recebia a Regência, do Rio de Janeiro, como oferta de dois portugueses, um lugre com carga valiosa para o serviço e despesas do Governo na sustentação dos defensores da Rainha. Ao lugre deu-se o nome de Boa Esperança, e foi, pouco depois, artilhado convenientemente. A 18 do mesmo mês ordenou a Regência que, nos laços e bandeiras, se usasse duas cores, azul e branca, sendo o Castelo de São João Baptista o primeiro ponto do território português onde foi arvorada a bandeira constitucional, o que foi saudado com uma salva de artilharia. No mês de dezembro, a 4, fez publicar as sessões do conselho de justiça, e nomeou para este e para os conselhos de guerra quem exercesse as funções do ministério público. No dia 6 aboliu os direitos do pescado e as casas de arrecadação dos mesmos e, a 26, decretou a criação e regimento das juntas de paróquia, e no dia seguinte o mesmo para as Câmaras Municipais eletivas. Durante o mês de novembro efetuaram-se algumas prisões dos desertores, arvorados em guerrilhas, chegando a serem aprisionados alguns destes pela tropa que os procurava constantemente. Tendo faltado dinheiro para o pagamento da tropa e empregados públicos, recebeu a Regência, de Inglaterra, pela escuna Jack-o'-Lantern, uma chapa de 300, 600, 1$200 e 2$400 réis para circularem em papel moeda, a quantia de quarenta e seis contos de réis. Desta forma conseguiu o governo satisfazer de pronto os numerosos compromissos que tomara e desfazer por um momento a desconfiança que começara a aparecer nos funcionários públicos e na tropa. Apareceram alguns navios de guerra em presença da ilha Terceira, durante os últimos meses de 1830, ignorando-se qual o seu intento, o que deu lugar a medidas rigorosas para a defesa da costa. Além do lugre Boa Esperança, comprou o governo mais outro navio por doze contos de réis, ao qual deu o nome de Liberal, e o armou convenientemente como fizera ao primeiro. Nenhum destes atos da Regência modificou as violências e desgraças, que a todo o momento tinham lugar nos campos, despertando o ódio pela maneira atroz por que procediam os comandantes dos destacamentos. E assim