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or, a estrella da tempestade. A mulher é uma divindade que nunca se implora em vão, especialmente quando se é desgraçado.

Era com este incessante pensamento que, do meu camarote a bordo do Itarapika, voltava sem cessar o meu olhar para a terra. D’ahi descobria formosas meninas occupadas em differentes trabalhos domesticos. Uma d’ellas, principalmente, attraia-me a attenção. Mandaram-me desembarcar e immediatamente me encaminhei para a casa sobre que ha tanto tempo se fixava o meu olhar. O coração batia-me apressado, mas tinha formado uma d’essas resoluções que uma vez tomadas, nunca mais enfraquecem. — Um homem convidou-me a entrar, — teria-o feito ainda mesmo que elle o prohibisse — tinha-o visto uma vez — vi sua filha e disse-lhe: «Virgem pertences-me!» Havia por estas simples palavras creado um laço que só a morte podia quebrar. — Tinha encontrado um thesouro prohibido, mas de tal preço!... Se houve uma falta commettida, a responsabilidade só a mim pertence; se foi uma falta, unirem-se dois corações, despedaçando a alma de um innocente.

Mas ella está morta e elle vingado — Onde conheci a grandeza da minha falta? — Na embocadura do Cridam no dia em que esperando disputal-a á morte, lhe apertava convulsivamente o pulso para contar as suas ultimas pulsações, absorvendo o seu alento fugitivo...... Beijava os seus labios muribundos, e apertava nos meus braços um cadaver chorando lagrimas de desesperação.[1]

  1. Quando acabei de lêr este capitulo fiquei admirado de o vêr pouco comprehensivel. Voltei-me para Garibaldi, e disse-lhe:
    — Lê isso, acho ahi uma grande falta.
    Lêu, e depois de um momento de silencio, disse-me suspirando:
    — É necessario que isso fique como está.
    Dous dias depois recebi um manuscripto intitulado — Annita Garibaldi.