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o como conductores, salvei com muito custo quinhentos bois, que visto o mau sustento e o pessimo caminho foram julgados incapazes de chegar ao seu destino.

Resolvi em consequencia matal-os e tirar-lhe as pelles, que vendi, ficando-me livres de toda a despeza uns trezentos escudos que serviram para fazer face ás primeiras necessidades da minha familia.

É aqui que devo mencionar um encontro que me deu um dos meus mais charos e melhores amigos.

Aproximando-me de S. Gabriel, na retirada que acabavamos de fazer, tinha ouvido fallar de um official italiano, dotado de grande valor e intelligencia, que, exilado como carbonario se tinha batido em França no dia 5 de junho de 1832, e depois no Porto durante o cerco que ahi houve por causa da guerra entre os dois irmãos D. Pedro e D. Miguel, vindo depois offerecer-se ao serviço das jovens republicas da America do Sul.

Contavam-se a seu respeito cousas tão extraordinarias que muitas vezes disse:

— Quando encontrar esse homem, ha-de ser meu amigo.

Chamava-se Anzani.

Chegando á America, tinha-se apresentado com uma carta de recommendação a dois dos seus compatriotas MM.*** negociantes em S. Gabriel, que tinham feito d’elle o seu factotum.

Anzani exercia todos os empregos, caixeiro, guarda-livros, homem de confiança, emfim era o bom genio d’esta casa.

Como todos os homens fortes e corajosos, Anzani era socegado e dotado de um excellente genio.

A casa commercial de que elle se tinha tornado director era uma d’essas casas como se acham unicamente na America do Sul, isto é vendendo tudo o que é possivel imaginar.

A villa onde residiam os nossos dois compatriotas era infelizmente proxima da floresta que