Página:Memórias de José Garibaldi (1907).pdf/145

Wikisource, a biblioteca livre

O indio parou espantado diante d’essa casa que no meio do terror geral que causava a sua chegada, se conservava indifferente á sua apparição.

Entrou e viu encostado ao balcão um homem que socegadamente fazia as suas contas. Parou diante d’elle de braços cruzados e olhando-o com espanto.

Anzani levantou a cabeça.

Anzani era a politica em pessoa.

— Que quer meu amigo? perguntou elle ao indio.

— Como! que quero?! disse este.

— Sem duvida, disse Anzani, quando se entra n’um armazem é que se quer comprar alguma cousa.

O indio começou a rir.

— Pelo que vejo não me conheces? perguntou ele a Anzani.

— Como queres que te conheça, se é a primeira vez que te vejo!

— Sou o chefe dos Mattos, replicou o indio, mostrando no seu cinto um arsenal composto de quatro pistollas e um punhal.

— Então que queres?

— Beber.

— O que?

— Um copo de agua-ardente.

— Não ha nada mais facil; paga primeiro e depois tens a agua-ardente que quizeres.

O indio começou a rir de novo.

Anzani franziu as sobrancelhas.

— Em logar de me responder, tornas de novo a rir. Não acho isso mui politico. Previno-te, pois, que se isso succede outra vez ponho-te fóra da porta.

Anzani tinha pronunciado estas palavras com tal firmeza, que outro qualquer homem que não fosse o indio teria comprehendido com quem tinha a tratar.

Talvez o selvagem houvesse comprehendido, mas não o deu a conhecer.