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que se submettem ao poder do papa e passeam venerados na cidade de que foram o terror, Artigas fez a sua entrada triumphal em Montevideo, e começou a obra de destruição para que havia sido chamado.

Estes factos tiveram logar cincoenta e oito ou sessenta annos antes dos acontecimentos em que Garibaldi vae tomar parte, mas como nós somos author dramatico e não podemos deixar de começar um drama por um prologo, vamos dar a conhecer aos leitores, homens e terras que lhe são bem desconhecidos.

Artigas tinha então vinte e sete ou vinte e oito annos, tendo na época em que o general Pacheco me deu estes detalhes noventa e tres annos, vivendo ignorado n’uma pequena quinta pertencente ao presidente do Paraguay. Hoje provavelmente já tem morrido.

Era um mancebo bello e bravo, e que representava um dos tres poderes que reinaram em Montevideo.

Jorge Pacheco era o typo do valor cavalheiresco do velho mundo, que atravessou os mares com Colombo, Pizarro e Fernando Cortez. Artigas era o homem do campo, e podia representar, o que chamavam o partido nacional, collocado entre os portuguezes e hespanhoes, isto é entre os estrangeiros que se tinham tornado portuguezes e hespanhoes, pela sua habitação nas cidades onde tudo fazia lembrar os costumes portuguezes e hespanhoes.

Ainda havia um terceiro typo e mesmo uma terceira potencia que foi o flagello de todos e de que é necessario dizer duas palavras.

Este terceiro typo é o gaucho, a quem Garibaldi chama o centauro do novo mundo.

Na França chamamos gaucho a tudo quanto vive n’estas vastas planicies, mas commettemos um erro: o capitão Head da marinha ingleza, foi o primeiro a pôr em moda esta mania de confundir o gaucho com o habitante do campo, que na