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todas as nossas esperanças, foi n’essa noute que milhares de espadas erguidas para a defeza da patria se abaixaram. Com o rei Victor Manuel a patria estava no rei, ella se personalisava n’esse coração leal, e nós fazendo esta revolução, diziamos: «Coragem! O rei talvez um dia nos perdoe de o havermos feito senhor de seis milhões de italianos.»

Com Carlos Felix succedia exactamente o contrario. Estavam outra vez debaixo do jugo da Austria, e viam-se obrigados a começar de novo os seus trabalhos.

Comtudo toda a esperança ainda não estava perdida.

No dia 14 de março o principe de Carignan nomeado regente appareceu á janella, e no meio dos vivas calorosos do povo proclamou a constituição de Hespanha.

Como este facto devia ter no futuro grande importancia, como o principe Carlos Alberto devia um dia desmentir o principe de Carignan, é necessario não só citar o facto da constituição proclamada em alta voz, mas tambem dar uma cópia do edital que foi affixado nos muros de Turim.

Eis a traducção fiel:

«Nas circumstancias difficeis em que nos achamos é necessario sahir fóra dos limites que a nossa qualidade de regente nos impõe. O nosso respeito e submissão a sua magestade Carlos Felix, actual soberano, devia-nos obstar a que fizessemos alguma alteração nas leis fundamentaes do estado, até que soubessemos as intenções do nosso novo soberano, mas como as circumstancias imperiosas porque passamos são conhecidas por todos, e como queremos entregar ao novo rei um povo socegado e feliz e não despedaçado pela guerra civil, decidimos, ouvido o nosso conselho e na esperança de que sua magestade levado pelas mesmas considerações, revistirá a nossa deliberação da sua approvação soberana, que a constituição de Hespanha