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O que ha n’isto de curioso é que durante toda esta marcha, as musicas militares romanas tocaram a Marselhesa combatendo aquelles que animados por este canto tinham vencido a Europa.

É verdade que elles já não cantavam.

Além dos mortos e feridos que nos fizeram, as balas, e projectis causaram n’estes recontros grandes damnos aos nossos monumentos, e não podemos deixar de nos rirmos tristemente quando lemos nos jornaes francezes que o cerco cresceria provavelmente em extensão pelo cuidado que tinham os engenheiros de não offender os monumentos artisticos.

As ballas, e os tiros de canhão batiam, com effeito, e se espalhavam como chuva sobre a cupola de São Pedro e sobre o Vaticano.

Na capella Paulina, enriquecida com pinturas de Miguel Angelo, de Zuccari e de Lourenço Sabati, uma das pinturas foi diagonalmente ferida por um projectil.

Na Sixtina um outro damnificou um caixão pintado por Buonaroti.

Emfim, os francezes perderam n’estes combates, feridos e prisioneiros, trezentos homens. Pela nossa parte tivemos uma centena de homens mortos ou fóra do combate e um prisioneiro.

Este prisioneiro era o nosso capellão Ugo Bassi que n’um dos nossos movimentos de reanimar, tendo encostado aos joelhos a fronte de um moribundo junto ao qual se havia sentado para o consolar, não quiz abandonal-o senão quando elle exhalou o derradeiro suspiro.

Advinha-se facilmente a alegria que se apoderou de Roma em a tarde e noite que se seguia a este primeiro combate. Fosse qual fosse o aspecto que d’ali em diante tomassem as coisas, a historia, pelo menos assim se julgava, não negaria que não só nós tinhamos feito frente um dia inteiro aos primeiros soldados do mundo, mas ainda os haviamos forçado a retirar.

A cidade foi toda illuminada, tomando o aspecto