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Encaminhado-me para Cassiopea, ganhei as montanhas de Sestri, e no fim de dez dias, ou antes de dez noites; cheguei a Niza, dirigindo-me logo a casa de minha tia, na praça da Victoria, a fim de que ella prevenindo minha mãe lhe tirasse todos os cuidados.

Descancei um dia, e na noite seguinte parti acompanhado por dois amigos, José Jaun, e Engelo Gostavini.

Chegados ao Var, achamol-o innundado pelas chuvas, mas para um nadador como eu, não era isto um obstaculo. Atravessei-o metade a nado, metade a vau.

Os meus dois amigos haviam ficado na outra margem. Disse-lhe adeus.

Estava salvo, ou quasi, como se vae vêr.

N’esta esperança dirigi-me a um corpo de guardas da alfandega; disse-lhe quem era, e qual o motivo porque havia deixado Genova.

Os guardas disseram-me que era seu prisioneiro, até nova ordem, e que a iam mandar pedir a Paris.

Julgando que acharia facilmente occasião de fugir, não fiz nenhuma resistencia, e deixei-me conduzir a Grasse, e de Grasse a Draguignan.

Em Draguignan metteram-me em um quarto do primeiro andar, cuja janella sem grades, dava para um jardim.

Aproximei-me d’ella como se quizesse vêr o jardim: da janella ao chão havia a altura de quinze pés. Dei um salto, e em quanto os guardas, menos ligeiros e estimando mais as pernas do que eu estimava as minhas, saíam pela escada; ganhei-lhe muita dianteira embrenhando-me nas montanhas.

Não conhecia o caminho, mas era marinheiro, e lendo no ceo, n’esse grande livro, aonde estava habituado a lêr, orientei-me e dirigi-me a Marselha. No dia seguinte de tarde cheguei a uma villa de que nunca soube o nome, porque nem tive tempo para o perguntar.