Página:Memórias de José Garibaldi (1907).pdf/59

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o Atlantico, e sobre tudo para um italiano, nascido em um paiz em que é difficultoso vêr um palmo de terra sem encontrar uma casa ou alguma obra dos homens.

Ali pelo contrario existia unicamente a obra de Deus, tal como havia sahido das suas mãos no dia da creação.

Era uma vasta, uma immensa campina, e o seu aspecto que é o de um tapete de verdura e flores, não muda senão nas margens do ribeiro Arroga, onde se elevam balanceando ao vento encantadores grupos de arvores com folhas luxuriantes.

Os cavallos, os bois, as gazellas, as avestruzes são, á falta de creaturas humanas os habitantes d’essas immensas solidões, que só são atravessadas pelos gauchos, esses centauros do novo mundo, como para dar a entender a essas turbas de animaes selvagens que Deus lhe deu um senhor... Mas esse senhor, como o veem passar os touros, as avestruzes, as gazellas! É a quem protestará primeiro contra a sua supposta dominação: o touro pelos seus mugidos, a avestruz e a gazella pela fuga.

Esta vista fez-me pensar na patria, onde quando passa o austriaco que os opprime, os homens, essas creaturas creadas á imagem de Deus, cumprimentam-no e se curvam, não ousando dar os mesmos signaes de independencia que os animaes selvagens dão á vista do gaucho.

, até quando permittireis tão grande aviltamento da vossa creatura!?

Deixemos o velho mundo, tão triste e aviltado, e voltemos ao novo, tão joven, e tão cheio de esperanças!

Como é bello o cavallo das planicies orientaes, com os seus jarretes estendidos, com as ventas fumantes, com os seus labios que nunca sentiram a friesa do aço! Como respiram livremente debaixo do contacto da sua clina e juba, os seus flancos que nunca foram apertados pelo joelho dos