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MEMORIAS DE UM NEGRO
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para a Inglaterra, previu tudo, regulou tudo afim de proporcionar-nos conforto lá fóra.

Sahimos de Tuskegee e tomámos o trem de Nova York a 9 de Maio. Porcia, que estudava em South Framingham, no Massachusetts, veio assistir ao nosso embarque. O sr. Scott, meu secretario, acompanhou-me e até a ultima hora discuti com elle negocios do estabelecimento.

Pouco antes de nos despedirmos recebi de duas senhoras generosas a quantia necessaria á construcção dum edificio onde poderiamos installar os ateliers das raparigas, em Tuskegee.

Embarcámos no Friesland, da Red Star Line, navio soberbo. Fomos para bordo antes do meio-dia. Era a primeira vez que me via num transatlantico e experimentava uma extranha sensação, mistura de alegria e terror. O capitão e os officiaes, informados da nossa presença, receberam-nos amavelmente. Conheciamos alguns passageiros, entre os quaes o senador Sewel, de Nova Jersey, e Eduardo Marshall, jornalista.

Lembrando-me das narrações de pretos que não tinham tido bom acolhimento em navios americanos, temi alguma affronta, que não se realizou: a tripulação, de alto a baixo, e todos os viajantes, sem exceptuar os sulistas, dispensaram-nos gentilezas.