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MEMORIAS DE UM NEGRO
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pensavel, quando fizer melhor que os outros as coisas que toda a gente faz. Tive a inspiração disto no dia em que varri a sala do collegio, em Hampton. Senti que o meu futuro dependia da execução da tarefa e resolvi desobrigar-me de fórma que não achassem nella um defeito. No museu do Luxemburgo ninguem pergunta se o sr. Tanner é negro, allemão ou francez. Produziu uma coisa que o publico necessita, uma obra de arte, e é quanto basta. O facto de elle ter uma côr differente das côres ordinarias não interessa. A rapariga negra que sabe cozinhar, lavar, coser ou escrever e o rapaz negro habil no tratamento dos cavallos, na fabricação da manteiga, na cultura das batatas, na construcção de casas ou na pratica da medicina serão julgados e acceitos em conformidade com os seus meritos. Afinal o mundo exigirá perfeição em todas as coisas, e os que trabalharem bem terão preferencia. O essencial é a producção, e nisto a raça, a religião e os antecedentes historicos não importam. É impossivel que um homem concorra para o bem-estar do proximo e não tenha recompensa adequada.

Surprehenderam-me o amor ao prazer e a excitabilidade que parecem caracterizar o povo francez, duas qualidades muito mais vivas nelle que nos homens da minha raça. Quanto á moral, não acho que os francezes sejam superiores á gente de côr. As