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MULHERES E CREANÇAS

Elles duvidam, rindo com ironia ignobil de tudo que n’outro tempo amavam devotamente. Foram-se os bardos sentimentaes e um tanto rediculos, diga-se a verdade! que amavam sem esperança, mas com ternura apaixonada, as queridas perfidas, que desprezavam o seu desinteressado affecto.

A litteratura, que é o espelho das sociedades, tem por feição a ironia mordente, a analyse fria, a dissecação anatomica mais positiva e mais crua.

O desdem pela mulher manifesta-se sob todas as fórmas, e debaixo de todos os aspectos.

Se acabaram as declamaçães de Benedicto e de Antony contra a tyrannia esmagadora da instituição conjugal, apparecem em logar d’estas os quadros mais abjectos da dissolução e da decadencia a que chegou o casamento e com elle a mulher.

No limiar da adolescencia os que não alardeiam um cynismo falso e tão ridiculo como os transportes romanticos do passado, calculam arithmeticamente o que póde provir-lhes em beneficios liquidos d’aquillo a que chamam um bom casamento.

Não attendem ás qualidades moraes, que não podem apreciar nem conhecer; quando muito, lançam no orçamento como uma verba de certa importancia as vantagens physicas da noiva escolhida.

Nenhum grande pensamento os exalta, nenhuma