A epocha em que começam os acontecimentos de cuja narração nos vamos occupar é nos primeiros annos do seculo passado, epocha em que os exploradores portuguezes e as bandeiras paulistanas crusavam as regiões destas minas em continuo movimento, á semelhança das tribus selvagens.
Figuraram então tres nomes que ficaram para sempre celebres nos annaes dos primeiros descobrimentos das minas: - Amador Bueno, Borba Gato e
Nunes Vianna.
Os dois primeiros, paulistas fieis e submissos ás leis e auctoridades da Metropole, mas aventureiros audazes e ambiciosos, só curavam de estender suas explorações por todo o territorio de Minas. O terceiro, Nunes Vianna, era portuguez, mas a acreditar-se a tradição muito verosímil, viera ainda creança para o Brasil, e era tão bom sertanista como qualquer dos
outros. Enriquecêra extraordinariamente, e por seu tino e habilidade alcançára tal influencia e prestigio entre seus patrícios, que estes, supportando com impaciencia o jugo das leis do Reino, se insurgiram e acclamaram seu chefe a Vianna, que nesse posto causou bastante inquietação ao governo do reino.
Vê-se, pois, que não eram os paulistas os mais rebeldes ao governo da metropole, mas sim os portuguezes. Todavia não era em todos os pontos das
minas que isto succedia; isolados e dispersos como andavam os diversos grupos de uma e outra origem, por tão vasta extensão, não podia haver entre elles uma com binação geral, e nem sempre eram os paulistas os vassallos fieis, nem os emboabas os revoltosos; mesmo em uma ou outra localidade se congraçaram sem se dar entre elles a menor sizania, como se verá no decurso desta narrativa.
Ali bem ao pé do serro, junto a um rancho coberto de capim e de beira no chão, sentados sobre a relva, em um dia de novembro de 1709, achavam-se
tres vultos que conversavam entre si em tom grave, sombrio e mysterioso.
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