Página:O Bandido do Rio das Mortes.pdf/30

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dencia e espírito de justiça pelos dous illustres chefes paulistas, a quem todos acatavam. De facto, Antonio Dias e o padre Faria, como todos os outros chefes e descobridores, governavam com poder absoluto essas colonias, que, sem leis nem auctoridades, separadas por longas distancias e invios sertões dos centros administrativos, viviam quasi como em regimen patriarchal; e, portanto, não é para admirar que das boas ou más qualidades de seus chefes dependessem, muitas vezes, a paz e a prosperidade desses nascentes povoados. Gaspar, com ar sombrio e abatido, abeirando os corregos, ora encontrando, ora mesclando-se com diversos grupos de trabalhadores que se recolhiam em todas as direcçt1es, procurava em vão achar alguma pessoa conhecida, paulista ou emboaba, bugre ou negro. Por fim, enxerga um indio velho, que se achava em companhia de um moço da mesma raça e que, longe de acompanharem a alegria geral, se tinham deixado ficar assentados ao lado um do outro, como que conversando tristemente. Pelo caminho, Gaspar ia monologando comsigo: - Aqui tudo está satisfeito e contente; não acho companheiro. Aqui ha paz e alegria, não é como em S. João d'El-Rey. Quando, pois, encontrou os dous bugres, cujo ar de descontentamento se harmonizava com a situação do seu espírito, dirigiu-se affoutamente a elles. Gaspar conhecia algum tanto a lingua indígena e em um dialecto misturado pediu que lhe ensinassem a casa do Padre Faria. - Somos de lá, - respondeu o velho-e estamos descançando um pouco para nos recolhermos. O índio velho respondeu em tão bom portuguez, que Gaspar ficou maravilhado, começando portanto, a falar com elle a lingua portugueza sem mescla de indianismo. - Quero que me conduzas á casa delle.

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