Página:O Mysterio da Estrada de Cintra (1894).pdf/75

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Que te matassem cobardemente no carcere clandestino que ha pouco tempo ainda tu illuminavas com a tua pachorra e a tua alegria, não póde ser. Que a esta hora tenhas sido obrigado a jogar a tua vida trocando em desaggravo de honra uma estocada ou um tiro com algum dos teus mysteriosos commensaes, isso acho logico, e é possivel.

Punge-me não sei que vago e triste presentimento... Meu pobre F...! Se estará destinado que não nos tornemos a vêr! Se o dia fatal em que regressámos ambos de Cintra, descuidados, contentes, suspirando com as nossas alegrias, sorrindo com os nossos infortunios, terá acaso de ser o ultimo d’essa doce convivencia que por tanto tempo nos juntou!...

E são as amarguras alheias, são as desgraças dos outros que nos arrastam envolvidos no turbilhão implacavel e terrivel da crua solidariedade humana!

Que remedio? !

Se a vida é isto, aceitemol-a corajosamente como ella é, e ávante! aprenda-se a ser desgraçado, visto que é essa a mais segura maneira de se ser feliz!