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O SACI
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— E’ verdade isso ou você está me bobeando para me consolar?

Pedrinho, que nunca mentia, sentiu tanto dó das pobres velhas que pela primeira vez na vida resolveu engana-las com uma mentira de bom tamanho. Deu uma risada e disse:

— Não se assuste, vóvó! Narizinho e eu resolvemos pregar uma grande peça na senhora, mas essa peça é um segredo que não posso contar. Só amanhã, ao clarear do dia — e deu uma grande risada.

Dona Benta sossegou um pouco e ralhou severamente com o menino, fazendo ver o transtorno que aquela estranha “surpresa” Ihe causara. Disse que sofria do coração e que, se coisas assim se repetissem, o certo era ir para a cova antes do tempo.

Pedrinho sossegou-a como pode e afinal saiu para o terreiro, gritando que se acalmassem porque dentro de uma ou duas horas estaria de volta com a menina.

Lá no terreiro, só com saci outra vez, voltou-se para ele e disse:

— E agora, amigo saci, que iremos fazer?

— Estou armando o meu plano, respondeu o diabrete. Já fiz uma inspeção pela casa toda e pelo terreiro. Estou na pista do raptor.

— Raptor? repetiu o menino sem nada compreender.

— Sim. Narizinho foi raptada pela Cuca. Descobri o rasto da horrenda bruxa perto da porteira. Temos agora de ir á caverna onde mora a Cuca e ver o que ha.

— Mas se a Cuca é poderosa como você diz, que poderemos fazer?

— Não sei. Lá veremos. O que é preciso é não desanimar. Se ela é poderosa, eu sou astucioso. A astucia inu-