Página:O ermitão do Muquem (1864).djvu/47

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mesmos que ainda há pouco morriam por um só de seus sorrisos. O espanto, o terror e talvez o remorso tinham fulminado a alma da infeliz rapariga, que caiu em um estado de idiotismo, do qual nada pôde depois arrancá-la.

A pobrezinha tinha também os vestidos e as mãos salpicadas de sangue, e parecia ferida, posto que ligeiramente, em uma ou outra parte do corpo. Sem dúvida naquele trance horrível se lançara entre os combatentes para os separar e se achara envolvida naquela temerosa luta.

Os cavaleiros, à vista do que observaram, concluíram que o combate tinha sido renhido, furioso e desesperado. O corpo de Reinaldo estava todo contuso, cutilado e esfaqueado; na boca e nos dentes, onde espumava um sangue negro, viam-se farrapos de pano, o que indicava que no último trance o infeliz combatera até com os dentes. Tudo enfim revelava que ali se passara uma cena pavorosa, da qual os vestígios mudos, que existiam, falavam mais alto do que toda e qualquer narração.

Notaram depois os cavaleiros que pelo campo seguia uma batida, a qual ia salpicada de um rastilho de sangue e que ia perder-se na estrada; daí depreenderam que Gonçalo, gravemente ferido na luta, por aí se retirara, naturalmente para sua casa. Dois dos companheiros seguiram aquele trilho ensangüentado,