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O IMPERIO BRAZILEIRO

quaes 54 de officiaes, quando o effectivo do exercito não passava de 13.000 homens. N'estas condições facil teria sido ao Imperador, si não fosse tão honesto, angariar com favores dedicações interesseiras entre os chefes militares e indispol-os, uns contra outros, pela inveja d'aquelles favores[1].

Outro incidente do mesmo genero surgiu logo depois. O commandante da escola de tiro de Rio Pardo (Rio Grande do Sul), official de idéas republicanas, animoso e talentoso, mas de temperamento irascivel e bulhento, como o comprovavam varios episodios, tenente-coronel Senna Madureira, occupou-se n'um jornal republicano de Porto Alegre — A Federação, de coisas militares, a proposito d'um discurso no Senado em que fôra mencionado seu nome, como envolto no caso em discussão. Censurado pelo ministro, respondeu publicamente á reprehensão, solicitando um conselho de guerra para provar a injustiça da mesma, o que o governo recusou por se tratar de uma decisão administrativa e de uma pena disciplinar por motivo independente de um tribunal militar, aliás incompetente para julgar o acto do ministro que se achava á frente do exercito.

Os camaradas do tenente-coronel Senna Madureira, aquartelados em Porto Alegre — no Rio Grande do Sul, onde por causa da vizinhança da fronteira, estaciona sempre o grosso das forças armadas do Brazil — reuniram-se para protestar contra as resoluções do governo central, sob os olhares indulgentes do marechal Deodoro da Fonseca, commandante das armas da provincia, isto é, á testa da sua divisão militar e exercendo interinamente a sua administração civil, pela ausencia do respectivo presidente. Veterano da guerra do Paraguay, membro de uma illustre familia de militares, esforçado, querido dos companheiros, Deodoro, que politicamente estava filiado ao partido conservador, parecia professar sobre as contribuições dos militares para os jornaes opiniões mais severas ainda do que as evidenciadas pelo gabinete Cotegipe porquanto não vacillara em instaurar processos contra um dos seus subordinados que na imprensa se

  1. Braz do Amaral, O Imperador e a proclamação da Republica, n'O Jornal de 2 de Dezembro de 1925.