Página:O jesuita - drama em quatro actos.djvu/148

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adorais com a paixão veemente e profunda do pai que é obrigado a ocultar seu amor.

CONDE – Como soubestes este segredo?

SAMUEL – Como?... O poder da Companhia de Jesus repousa sobre a consciência, onde não penetram nem as armas dos vossos soldados, nem o braço dos vossos esbirros. Aos pés do humilde confessionário, que lhe serve de trono, nenhum cortesão da realeza vem depor a torpe lisonja; todos se prostram, grandes e humildes; todos lhe abrem sua alma. O que ela ouve é a voz da verdade, o grito do coração que lhe denuncia quanto crime impune, quanta miséria dorme às vezes no passado de homens reputados bons e virtuosos.

CONDE – Ah! Abusastes do segredo da confissão! E tendes a impudência de o declarar? Vós, ministro do Senhor, traístes o seu sacramento.

SAMUEL – Usei do poder que ele me confiou para “maior glória de Deus”. Tendes uma ordem do marquês de Pombal que manda prender os jesuítas e expulsá-los do Brasil no dia quatorze de novembro. Hoje são treze; eu vos esperava, senhor governador,