Página:O jesuita - drama em quatro actos.djvu/168

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poderosa do que minha vontade domina-me! (Pausa) O que é o homem, frei Pedro? Uma parcela de essência divina fechada em um vaso de argila. Que importa que o gênio se eleve e plaine sobre a terra, se basta um sopro para quebrar o vaso que o encerra?... Consumir cinquenta anos de existência a criar e realizar uma ideia; gastar toda a sua inteligência a preparar os elementos de uma revolução, conseguir à força de perseverança dirigir a marcha dos acontecimentos; e afinal ver tudo destruído pelo olhar de uma mulher!... Depois disto credes que haja verdade neste mundo? A ciência, a religião, a justiça, o que são? Uma mentira!... Uma ilusão que se desvanece com um sorriso de amor!... Homem, misto de orgulho e de baixeza, humilha-te!... Tu és um escárnio da Providência, que te criou para divertir-se em contemplar a tua miséria, luta insana do espírito com a matéria.

FR. PEDRO – Acalmai-vos, meu amigo. Sem querer, soltastes uma blasfêmia.

SAMUEL – Senhor, perdoai-me!... (à frei Pedro) Tendes razão; preciso de toda calma: resta-nos uma hora apenas.