Página:O jesuita - drama em quatro actos.djvu/183

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SAMUEL – Fui um grande pecador, Estêvão; mas quero revelar-te o mistério desta existência que está próxima de seu termo. Vais ler no fundo desta alma, onde até agora só penetrou o olhar de Deus.

ESTÊVÃO – Oh! sim; desejo conhecer a vossa história; ela me ensinará a amar-vos ainda mais.

SAMUEL – Como tu, Estêvão, ignoro de quem sou filho; não tive família; não conheci meus pais; porém nasci no seio desta terra virgem, que me nutriu como mãe; o meu berço embalou-se ao sopro das brisas americanas; os meus olhos abriram-se para contemplar este céu puro e azul. Não sei que perfume de liberdade respiram as flores destes campos; que voz solene tem o eco destas florestas; que sentimento de independência excita a grandeza deste continente e a amplidão do oceano que o cinge!... Não sei!... Mas a primeira ideia que germinou em meu espírito de quinze anos foi a emancipação de minha pátria; a primeira palavra que balbuciou a minha razão foi o nome do Brasil, que resumia para mim os nomes de pai, de mãe, de irmãos, de todos esses ternos afetos que a Providência me negara!