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O PRECURSOR DO ABOLICIONISMO NO BRASIL
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E si eu que, pretécio,
d’Angola oriundo,
alegre, jocundo,
nos meus you cortando;
é que não tolero
falsarios parentes,
ferrarem-me os dentes,
por brancos passando.»

Idéa que ressurge depois, como inseto que se não cansou de ferrar e que guardou ainda bastante ácido corrosivo no acúleo implacavel:

«Si os nobres desta terra empanturrados,
em Guiné têm parentes enterrados,
e, cedendo á prosápia ou duros vicios,
esquecer os negrinhos seus patrícios;
si mulatos de cor esbranquiçada
já se julgam de origem refinada,
e, curvos á mania que os domina,
esquecem a vovó, que é preta mina:
não te espantes, ó leitor da novidade,
pois que tudo, no Brasil, é raridade.»

Afranio Peixoto, estudando, na “Fruta do Mato”, a psicologia do mulato, afirmou que ele “odeia o negro, que já não é; e o branco, que não chegou a ser”. Esse singular, mas compreensivel estado de alma, que pareceu ser um fenomeno comuníssimo na sociedade brasileira, logo que os mestiços começaram a ascender na escala social, empurrados para cima pelos seus dotes e qualidades inteletuais, dá a impressão de que se exteriorizou principal-