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SUD MENNUCCI

— Alforria por isso? escandalizou-se o interpelado. — Eu comprei você para que trabalhasse para mim e você nada mais está fazendo do que cumprir a sua obrigação.

— O senhor comprou-me para o trabalho braçal e manual. Não está nas obrigações de um escravo o trabalho intelectual, que é muito mais difícil.

— Nem assim você me convence. A sua liberdade só será concedida quando eu me julgar pago das despezas que fiz.

— Pois bem, nesse caso, vou levar a questão ao tribunais. O senhor bem sabe que eu não sou escravo e que nasci livre.

O alferes Cardoso irritou-se e perguntou-lhe se a instrução que ele consentira em que Gama recebesse, só tinha servido para criar-lhe na alma aquela absurda pretensão e para revoltar-se contra quem sempre o tratara humanamente.

Gama não se deu por vencido. Reconhecia que, no fundo, o senhor era boa criatura e que lhe votava estima, como confessou na Carta. Mas, mesmo nessa sua primeira mocidade, como o provará mais tarde com toda a atuação de sua vida, o baianinho tinha uma sêde ardente de liberdade. Não iria permanecer acorrentado a uma injustiça por meras preocupações sentimentais e não podia aceitar que lhe negassem aquilo que era um seu legitimo direito.